Confira o nosso dossiê com histórias de quem já passou por essa barra, como as famosas lidaram com isso, os erros mais comuns e como não cair nessa roubada


“Não me preocupava em me prevenir, achava que não ia acontecer comigo”

“Engravidei aos 17 anos porque tinha relações com o meu namorado e nem sempre usávamos camisinha. Eu nunca tinha tomado pílula, nem me preocupava com isso, achava que não ia acontecer nada comigo. Quando descobri, demorei dois meses para criar coragem de contar aos meus pais, porque a gente nunca conversou em casa sobre sexo, não tive orientação da parte deles. Tive a sorte de poder contar com o apoio dos dois e do meu namorado. Mesmo assim, fiquei chocada com o que tinha acontecido, minha vontade era sumir, morrer, não queria de forma alguma. Levou um tempo até eu aceitar o bebê. Terminei aquele ano no colégio e tive que parar de estudar, assim como o meu namorado. Arrumamos emprego e fomos morar na nossa própria casa. De uma hora para outra, minha vida mudou totalmente, tive que assumir um monte de responsabilidades, tudo o que a gente fazia era pensando no nosso filho. Sem querer, os amigos ficaram de lado porque as baladas, as bagunças tiveram que ser deixadas para trás. Hoje a minha filha tem sete anos e é supercompanheira, a razão da minha vida. Mas, por ter vindo na adolescência, foi muito difícil. Quando vejo uma garota grávida, fico triste, sei o quanto é sofrido. Ser mãe é bom, mas o melhor é esperar a hora certa.”
Sandra Santos*, 24 anos

“Vou ter que abrir mão de muitos sonhos para cuidar da minha filha”

“Estou grávida de oito meses e meio, minha bebê já vai nascer. Estou feliz, uma criança é sempre uma alegria. Mas, sabe, eu devia ter planejado isso, hoje vejo que errei. Me descuidei completamente com o meu namorado. A gente mantinha relações sexuais e eu não tomava pílula, nem ele usava camisinha. A verdade é que não pensamos nas conseqüências, no que poderia acontecer depois. Até que um dia eu percebi que estava meio enjoada e comendo demais. Minha mãe também desconfiou e decidiu me levar ao médico. E eu estava grávida mesmo. Meus pais ficaram do meu lado e não me forçaram a casar, eu continuo morando com eles, mas, mesmo assim meu namorado participa bastante. Nesse ponto, eu até tive sorte, porque tem muito cara que não dá a mínima e alguns pais chegam a expulsar a menina de casa. Comigo não aconteceu isso, a única coisa que percebo é um certo preconceito do pessoal na rua, ou mesmo na escola. As pessoas ficam me olhando torto, é bem ruim. Fora isso, tive que desistir do meu sonho de ser aeromoça e larguei o emprego para cuidar do bebê. Até o vestibular que eu planejei prestar ficou para uma outra vez. Se pudesse dar um conselho às adolescentes, diria para elas se prevenirem. O melhor é estudar, trabalhar, ter uma carreira para depois pensar em filho. Se você inverte as coisas, tudo fica mais complicado.”
Carla Regina*, 17 anos

* Os nomes foram trocados para preservar a identidade das entrevistadas.

Muitas meninas, a exemplo do que contaram a Sandra e a Carla, até conhecem os principais métodos anticoncepcionais, como a camisinha e a pílula, mas, num raciocínio que não tem nada de lógico, acham que não precisam deles. “É como aquelas pessoas que vivem correndo no trânsito. Elas sabem que há limites de velocidade e que estão sujeitas a se envolver num acidente e até a morrer. Mas, por algum motivo, acham que são superpoderosas e que aquilo não vai acontecer com elas. A maioria das meninas pensa mais ou menos a mesma coisa: elas adotam um método anticoncepcional cerca de um ano após a primeira relação sexual. Mas o risco de engravidar nesse meio tempo é muito grande. Isso explica, em parte, o alto índice de gravidez na adolescência”, diz o ginecologista Karam Abou Saab, idealizador do site www.cegonha.org, de orientação sexual e reprodutiva. Por trás desse descuido, no entanto, pode estar uma vontade inconsciente de ser mãe, seja para assumir o papel de adulta, para tentar fazer o namoro se transformar numa relação mais séria ou até mesmo para chamar a atenção da família. O fato é que a estratégia, na maioria dos casos, não funciona como o esperado. A entrada na vida adulta acontece, sim, mas vem carregada de responsabilidades, as quais nem sempre estamos prontas para assumir. A relação com o pai da criança, da mesma forma, pode não evoluir como a gente gostaria. Na maior parte dos casos, mesmo quando os dois se casam, a relação não sobrevive. Além disso, o relacionamento com os pais – os avós da criança – pode tanto melhorar quanto piorar de vez e é bastante difícil prever a reação da família. Existe, inclusive, a possibilidade de que eles não acolham a filha grávida.